PORTO V | Livraria Lello

Terminada a visita a Serralves (que será partilhada amanhã), corremos para chegar antes do fecho da Livraria Lello & Irmão. Entre um autocarro que não aparecia e que nos levou a partilhar um táxi com espanhóis, uma máquina de metro que não tinha troco de vinte euros, uma ligeira confusão de linhas de metro e depois de ruas que não eram a que queríamos, eis que chegámos, finalmente e a vinte minutos do fecho, à Livraria. Exaustas. Felizes. Prontas para conhecer a famosa Lello, que tanto queríamos ver com os nossos próprios olhos.




Há muito que aqui queria entrar. Pela história. Pela arquitectura. Pela fama. Por ser uma livraria. Pela relação com a saga de Harry Potter. No fundo, por ser tão reconhecida. Queria, com os meus olhos, perceber o porquê do seu reconhecimento. Sem querer parecer muito exagerada vos digo: percebi assim que a vi.

Na minha primeira visita ao Porto - que já falámos aqui - não a visitámos porque, enquanto desconhecidos do Porto que éramos, não demos com a localização da Livraria. Descobri mais tarde que estivemos a um simples virar de esquina. Fui para o Porto na certeza que tinha de a ver, ainda que não fizesse parte do roteiro estipulado pela organização da visita. Arranjaríamos maneira e tempo de a visitar; e conseguimos.


Uns dois minutos para comprar o bilhete no quiosque do outro lado da rua, outros cinco para esperar a nossa vez e entrámos. A entrada da Livraria costumava ser livre mas, dada a sua grande procura, a gerência optou por tomar uma medida que viria a ser benéfica tanto para eles como para nós, clientes: pagar 3€ de entrada que, caso compremos um livro, podem ser imediatamente debitados no total. Esta medida veio reduzir o número de visitantes mas, em contrapartida, veio também aumentar o número de vendas uma vez que muitos de nós só lá entravam para ver e não para adquirir algo. O meu caso é a prova disso mesmo: eu não fui com o intuito de comprar um livro mas acabei por sair de lá com um. Não por não gostar de livros mas porque tendo apenas vinte minutos de visita, tudo o que queria era olhar para a casa.

A Livraria Lello & Irmão está aberta ao público há 110 anos, desde 13 de janeiro de 1906 e é obra de Xavier Esteves, um reconhecido engenheiro da altura. Assim que entrei soube que a fama que a Livraria tem não é em vão. É, de longe, a livraria mais bonita onde já entrei. Envolvemo-nos num ambiente acolhedor repleto de livros e uma decoração abismal.


Era dia de semana, novembro, e a livraria estava cheia. Fui, devagarinho, absorvendo o que tinha à minha volta e tentando captar o mais que pude porque, afinal, não é todos os dias que se vai ao Porto.

A Livraria é grande, não exageradamente, mas mais do que as pequenas livrarias de rua a que estamos habituados. Há detalhes em todo o lado. Cada um mais bonito do que o outro. Os bustos de ilustres escritores nos pilares, a balaustrada, os tectos trabalhados, os vitrais e os candelabros que ponteiam a Livraria de luz são detalhes graciosos que conferem a sua singularidade.








As escadas. Outra vez as escadas. Perdoem-me o cliché. Sou fã de Harry Potter e pensar que há a possibilidade de ter sido aqui que J. K . Rowling se inspirou para as escadas da Flourish & Blotts* não me permite não as admirar uma e outra vez. Se não tivessem relação alguma com a saga também as apreciaria, certamente; não dá para não o fazer!







O edifício é emblemático e o seu estilo neogótico não passa despercebido na Rua das Carmelitas. A fachada foi cuidadosamente desenhada: as janelas rectangulares e as pinturas laterais que representam a arte e a ciência, pela mão de José Bielman; o arco abatido que desenha a porta de entrada e que divide as duas montras; as pilastras nos seus coruchéus trabalhados; a ornamentação vegetal; o rendilhado e a letra trabalhada do próprio nome da Livraria.


Saímos "ao toque". Iam fechar. A visita foi curta mas feliz. O entusiasmo durou o resto do dia (talvez mais um bocadinho) e ainda assim tenho de lá voltar. Há sítios que devemos voltar sempre, mesmo que já tenhamos visto tudo ao pormenor e eu ainda nem sequer vi a Livraria Lello ao pormenor. É por estas e por outras que eu gosto tanto do Porto.

Amanhã partilho a visita ao Museu de Serralves que foi feita meio a correr, tal era a pressa de chegar à Rua dos Carmelitas. Um bocadinho das exposições que por lá andavam em novembro e um bocadinho (muito pequeno) dos seus jardins. Fiquem desse lado.

* Flourish & Blotts - livraria situada na Diagon Alley onde os alunos de Hogwarts compram os seus livros escolares.

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